terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Tomando a Palavra


Este é um espaço para que nós, mulheres(e homens) que fomos vítimas de abuso sexual na infância e/ou, adolescência possamos nos expressar e denunciar as violências sofridas. Ter passado por este trauma costuma calar as nossas vozes pois trata-se de uma dor que não tem fim e se faz acompanhar de uma vergonha enorme.
Mas é justamente essa vergonha e esse silêncio que fazem com que os crimes continuem impunes, as violências continuem ocorrendo dentro das próprias famílias e que continuemos sem atendimento especializado.
Este espaço estará aberto para quem queira postar algo sobre o que sofreu e sofre devido ao abuso. Espero com isso contribuir para que este problema tão grave deixe de ser oculto pelo tabu do silêncio e mostrar aos profissionais do direito e da saúde, a quem cabe atender as vítimas, a síndrome que estas passam a apresentar como uma espécie de cicatriz na alma que nunca fecha completamente e frequentemente volta a sangrar.
Falo em síndrome porque conversando com outras vítimas percebo que todas tem dificuldades psíquicas bem parecidas como depressão, timidez extrema, insegurança e dificuldade ao relacionar-se e em muitos casos automutilação e tendências suicidas. Esses sintomas atrapalham seriamente a vida das vítimas em todas as áreas, desde a vida profissional até a sexualidade e formação de vínculos. Algumas vítimas quando não recebem tratamento podem inclusive tornar-se novas agressoras perpetuando o padrão do abuso.
Eu mesma venho me tratando de depressão e precisei de bastante terapia para recuperar a minha capacidade e liberdade para o prazer sexual. Ainda luto com a timidez sempre que preciso falar sobre o meu trabalho, embora me saiba bastante competente. Estou em terapia a mais de dez anos. Tanto que tornei-me uma terapeuta.
Ultimamente, contudo, percebo que meu progresso tem esbarrado no muro do silêncio. Nenhum dos profissionais com quem me tratei estava preparado para me ajudar a ir mais a fundo. Nenhum havia estudado nada sobre o assunto. Não havia na minha cidade nenhum grupo de apoio específico para quem foi vítima, embora eu more em Recife, uma grande capital. Nenhum apoio governamental específico.
Tudo isso foi me chocando muito, sobretudo ao ver depoimentos no orkut de mulheres que foram abusadas por seus pais desde a infância até a idade adulta e continuavam sendo, sem terem força para buscar emprego ou ajuda de qualquer forma. Na verdade o tom dos depoimentos é quase sempre: o que faço para conseguir não me matar?! Coisas tão chocantes que poderia pensar que fosse fake se não tivesse eu mesma passado pelos abismos do desespero ao ser abusada por alguém da família.

Esse blog já conta com contribuições de companheiras que compartilharam comigo os seus relatos, as demais que porventura desejem usar este espaço para romper o silêncio peço que me enviem seus textos para o seguinte endereço,

k.lira.arte@gmail.com